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Com a premissa de gerar lucro e melhorar a qualidade de vida da população, especialmente as classes menos favorecidas, os negócios de impacto vivem uma crescente no Brasil.

Um levantamento do Sebrae em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) identificou mais de 800 negócios de impacto social em todo o país em 2018. Neste ano, a terceira edição do Mapa de Estudo de Negócios de Impacto, divulgado pelo Pipe Labs, mapeou pelo menos 1.272 iniciativas ativas.

Já falamos sobre as oportunidades do investimento de impacto por aqui. Agora, chegou a vez de descrever um pouco mais o papel dos atores desse ecossistema.

Os principais atores do ecossistema de impacto são as startups. Ao lado delas, encontramos outros agentes que facilitam, conectam e apoiam a conexão entre a oferta e a demanda de capital, como investidores, doadores e consultores.

Quem é o empreendedor de impacto

Entender o empreendedor, seu negócio e as suas demandas ajuda a orientar os novos entrantes e, principalmente, a direcionar os apoios que o ecossistema pode oferecer aos negócios.

 

Segundo os dados mais recentes do Mapa de Impacto, o estado de São Paulo concentra o maior ecossistema empreendedor de impacto brasileiro, com um perfil predominantemente de raça branca, mais maduro e com maior escolaridade.

O maior volume dos negócios de impacto, 8 em cada 10, continua entre os estágios de desenvolvimento da solução até organização de negócio – por muitos chamado de “vale da morte” por conta da alta taxa de iniciativas que morrem mesmo antes de chegar ao mercado. Nessa etapa, aumenta o número de mulheres fundadoras.

Outra tendência observada é que esses empreendedores escolhem duas ou até mais verticais de impacto para suas soluções. A tecnologia verde continua sendo a mais citada; em seguida vem: cidadania (40%), educação (28%), saúde (27%), cidades (23%) e serviços financeiros (15%).


Do que o empreendedor de impacto precisa?

O relatório revelou ainda que a maioria dos empreendedores de impacto buscam ajuda financeira (44%) – a maior parte busca recursos financeiros de menor volume já no início da jornada, assim como apoios de aceleradoras e incubadoras; em segundo lugar, vem a necessidade de mentoria (24%). Depois, está a comunicação (21%) e as parcerias e networking (19%).

No entanto, enquanto ele se mostra mais consciente sobre os recursos financeiros e apoios que necessita em diferentes estágios de desenvolvimento, muitas dessas demandas não são atendidas: 51% dos empreendedores que já buscaram/ estão buscando ser acelerados ou incubados não tiveram sucesso na empreitada.

Nesse sentido, entender a fundo as demandas não atendidas e analisar a disponibilidade de capital e apoios não financeiros no ecossistema ajuda a fomentar um pipeline de negócios mais saudável.

 

Regulamentação dos negócios de impacto

Enquanto o berço do empreendedorismo tradicional é o Vale do Silício, nos Estados Unidos, o empreendedorismo de impacto nasceu na Europa no início dos anos 2000.

O Brasil começou sua jornada de impacto em 2015, quando passou a integrar o Global Steering Group (GSG), coordenador global do campo de investimento de impacto.

Hoje, é não apenas o país da América Latina com o maior número de startups, como também um dos primeiros a possuir uma legislação sobre os negócios de impacto e o primeiro com uma estratégia de ação interministerial.

O Decreto nº 9.244, de 17 de dezembro de 2017, institui a Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (Enimpacto), uma articulação de órgãos e entidades da administração pública federal, do setor privado e da sociedade civil criada para promover um ambiente favorável ao desenvolvimento de investimentos e negócios de impacto no Brasil.

Apesar de ser um setor complexo, que ainda se encontra em um estágio incipiente em todo o mundo, para as startups esse ambiente regulatório é fundamental no desenvolvimento do ecossistema empreendedor.

A Enimpacto objetiva melhorar o ambiente de desenvolvimento das soluções sociais e promover iniciativas de inclusão deste tipo de negócio na cadeia de valor das empresas nos próximos 10 anos.

No que diz respeito aos investimentos, destaca-se a meta de atingir, até 2027, R$ 30 bilhões de reais alocados em investimento de impacto no Brasil.

Já no relativo ao aumento do número de negócios de impacto, a meta é que nos próximos 6 anos o Brasil some 4.300 negócios de impacto.

No eixo de fortalecimento das organizações intermediárias, a estratégia é menos precisa, mas visa fortalecer as organizações, ampliando seu número, qualificação técnica e abrangência geográfica.

Quem compõe o ecossistema do empreendedor de impacto?

Quando falamos em um ecossistema empreendedor de impacto, devemos pensar não apenas nas startups, bem como fundos de investimento, associações de investidores anjos, agentes de fomento, aceleradoras, incubadoras, hubs de inovação, dentre outros.

Trata-se das “organizações intermediárias”, como define a regulamentação no Brasil.

Essas instituições facilitam, conectam e apoiam a conexão entre oferta (investidores, doadores e gestores que buscam impacto) e demanda de capital (negócios que geram impacto social), garantindo parcerias duradouras e estratégicas.

Além de mapear e descrever o perfil do empreendedor de impacto, o Mapa de Negócios de Impacto analisou o ecossistema de apoio a esses negócios e mostrou que, no geral, a oferta ainda é limitada e muito concentrada no sudeste brasileiro.

Essa realidade, segundo o relatório do Pipe Lab, “não responde à demanda crescente de novos negócios atuando nas demais regiões do país e, principalmente, fora das capitais”.

Ante o cenário, recomenda-se a descentralização do ecossistema de apoio ao empreendedor, já que fora das capitais os negócios têm mais dificuldade de caminhar pela jornada, acessar investimentos e programas de aceleração.

Ademais, os negócios de impacto ‘fora do eixo’ trazem em si perspectivas de diferentes realidades.

Nesse sentido, atores que não favorecem regiões geográficas específicas podem se destacar. Esse é o caso HousingPact, hub cuja meta é melhorar a qualidade da habitação, solucionando problemas de moradia para as pessoas das classes C e D através da execução de projetos pilotos que unam startups e grandes empresas.

O hub de inovação seleciona startups que atuam nas áreas de interesse do patrocinador para sanar dores específicas. A grande vantagem é que ele ajuda a consolidar o ecossistema abrindo oportunidades, ampliando parcerias e fortalecendo redes através da mobilização de seus agentes sem se ater às limitações geográficas.

Retomando os dados que mostram o networking dentre as quatro maiores necessidades do empreendedor de impacto, essa é também a grande oportunidade de fazer conexões em prol de um objetivo comum: ajudar o planeta.