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O mundo se transforma o tempo todo, e com ele, as necessidades da população — o que inclui, é claro, os empreendedores.

Douglas Aparecido Cirilo, diretor de relações institucionais do Sicoob Unimais Metropolitana, defende que o impacto social deve ser uma das ações fundamentais das empresas.

Em parceria com o HousingPact, a singular do Sicoob – entidade com atuação local que presta atendimento direto aos cooperados na instituição financeira cooperativa presente em todo o Brasil – está impactando positivamente comunidades vulneráveis, ajudando pessoas a obterem financiamento de moradia ou reformas de moradia. E tudo isso em compasso com as diretrizes do ESG (Environmental, Social and Governance).

“As instituições financeiras escolhem para onde o dinheiro vai. Nosso meio [das cooperativas] talvez seja um dos principais agentes de mudança nesse sentido de destino do crédito. Se as empresas não têm práticas adequadas, não o recebem ou terão mais dificuldade de consegui-lo”, analisa.

Confira a entrevista de Cirilo a este blog, na qual ele fala sobre como o trabalho com o HousingPact expande os horizontes do Sicoob, o impacto social do empreendedorismo e o modelo de negócios do cooperativismo, dentre outros temas.

 

HousingPact – O que é o Sicoob e há quanto tempo vocês atuam?

Douglas – Atuo nesse meio desde 1994, desde muito jovem, no interior de São Paulo, antes mesmo do Sicoob ter existir. No Sicoob, atuo há 28 anos. Passei por muitas áreas — comercial, administrativa, fui gerente executivo de cooperativas e atualmente sou diretor de Relações Institucionais. A sede da nossa singular [Unimais Metropolitana] fica em Santos, mas atua na região metropolitana de São Paulo e em outros estados também, conectando-se a todo o Brasil.

HousingPact – Como a parceria entre o Sicoob e o HousingPact começou?

Douglas – O Sicoob Unimais Metropolitana é uma das mantenedoras [realizadora] do projeto HousingPact. O contato inicial aconteceu por meio do Instituto Sicoob, que atua na disseminação do cooperativismo, do empreendedorismo e da cidadania financeira. Ele organiza todas as nossas ações relacionadas à sustentabilidade pelo país. Foi o Instituto que colocou a nossa singular em contato com a organização do HousingPact. Nossas conversas começaram entre o fim de 2020 e início de 2021 e finalmente entramos no último ciclo como um dos organizadores do projeto. É um começo recente, mas muito intenso. Parece que estamos atuando há bastante tempo, porque conseguimos fazer muita coisa juntos nesse pequeno período de projeto.


HousingPact – Quais são os frutos dessa parceria?

Douglas – Nós começamos a olhar para o HousingPact como uma rede que poderia contribuir muito para que o Sicoob se reaproximasse de algumas comunidades em que nós sempre atuamos – porque, de fato, as cooperativas de crédito como instituição financeira cresceram e se desenvolveram apoiando o desenvolvimento das comunidades locais.

Quando conhecemos a atuação do HousingPact em comunidades vulneráveis, nós nos interessamos pela iniciativa. A partir disso, desenhamos o projeto piloto de financiamento e reforma de moradia para pessoas que não conseguem obter esse financiamento no mercado financeiro tradicional. Fizemos isso com uma rede de empreendedores capacitados pelo HousingPact para gerir a reforma a custo acessível para as famílias. Estamos trabalhando nos pilotos também para estimular o empreendedorismo para que traga impactos positivos onde o HousingPact atua.

Vale reforçar também a importância do HousingPact para nós na conexão com empresas de outros segmentos. Somos uma instituição financeira cooperativa e quando encontramos outras iniciativas que, assim como nós, atuam para desenvolver comunidades, de fato levando mudanças positivas à vida das pessoas, nos realizamos. Até algum tempo atrás, não imaginávamos que estaríamos ligados a empresas de segmentos diferentes; hoje, conversamos com elas por causa do HousingPact, que tem ampliado a nossa visão e contribuído com a nossa forma de atuação.

HousingPact – Vocês estão envolvidos em todas as nossas ações, porque o financiamento de crédito é essencial em todos os projetos, especialmente na linha em que eles trabalham. Correto?

Douglas – Estamos envolvidos porque temos o desafio, enquanto instituição financeira cooperativa, de levar o recurso – que é a nossa essência -, às pessoas e aos empreendimentos locais, nos conectando a eles. A vantagem é que o HousingPact consegue trazer outros parceiros que já tinham essas conexões. A InterCement, por exemplo, já tinha projetos em andamento nessa área; a Fundação Tide Setubal, tem o Galpão ZL, que atua na região. O HousingPact conseguiu trazer esses parceiros e para nós foi muito importante no sentido de permitir que nos conectássemos e cumprissemos o nosso propósito de levar esse crédito de maneira diferente ao sistema tradicional, para desenvolver essas comunidades.

HousingPact – Falando nisso, o empreendedorismo de impacto comunitário é uma tendência que está se fortalecendo, não?

Douglas – O empreendedor de impacto tem preocupação com as diretrizes do ESG. Acho que todas as empresas devem ter o desenvolvimento social na comunidade em que atuam como parte de seus principais objetivos. Precisamos sair do ciclo vicioso em que o mercado atua muitas vezes utilizando os recursos naturais e degradando o planeta para obter o lucro e depois, quando os recursos estão esgotados, pega aquele mesmo capital e busca outro local para, novamente, degradar e esgotar os recursos e depois, buscar novos locais.

Felizmente, isso é algo que tem mudado. Percebo que grandes capitais já têm adotado posições diferentes. Acredito que um dos grandes objetivos das empresas deve ser iniciar um novo tipo de ciclo, em que é possível se obter ganhos, mas também atuar no social. E isso pode começar dentro de casa, apoiando os empregados com remunerações justas e condições de trabalho corretas. Isso faz parte do papel social das empresas como um todo; em algumas mais e em outras, menos. O Sicoob, por ser uma cooperativa, investe no modelo em que o lucro retorna às pessoas que o usaram. Essencialmente, sempre foi assim, mas ainda temos os desafios do impacto social.

O crédito que uma instituição financeira fornece gera algo naquela comunidade, como emprego, renda ou um empreendimento de impacto que atua em reciclagem. Você pode contribuir com o meio ambiente ou simplesmente fornecer crédito a quem não tem essa preocupação. As instituições financeiras escolhem para onde o dinheiro vai. Nosso meio talvez seja um dos principais agentes da mudança nesse sentido de destino do crédito. Se as empresas não têm práticas adequadas, não o recebem ou terão mais dificuldade de consegui-lo.

HousingPact – O processo de aprovação do crédito no Sicoob toca no assunto das práticas de ESG ou pede algo relacionado ao impacto social delas? Ou trata-se de uma coisa mais subjetiva no momento da aprovação do projeto?

Douglas – O modelo não está pronto. Inclusive, é um dos pilotos em andamento com a HousingPact, para a avaliação não apenas do que normalmente as instituições avaliam em riscos de crédito, mas também o que ele vai gerar com o recurso.

O que já fazemos de característico do modelo cooperativo é a circulação do dinheiro na comunidade, na região onde atuamos, nas praças, nos bairros. Assim, ele tem uma vazão menor para empreendimentos gigantescos que saem da região e vão para longe.

Normalmente, o Sicoob direciona o seu recurso para onde ele tem os seus cooperados, o que é um avanço. Mas, como eu disse, ainda precisamos avançar na avaliação do impacto e o que esse dinheiro está gerando na comunidade.

HousingPact – A quantas anda o desenvolvimento do projeto? Como ele impacta nas necessidades do empreendedor?

Douglas – Está na fase inicial, que é de estruturação com a coordenação da rede. Já foram realizadas algumas etapas importantes. Uma delas foi justamente a de ouvir os empreendedores. Já sabemos muito o que eles esperam.

A gente entende o empreendedor que vai gerar um impacto como a redução de resíduos no planeta como alguém que precisa de crédito para desenvolver o negócio e quer, junto ao crédito, uma rede de apoio para ajudar a organizar a empresa e encontrar um espaço para apresentar seus produtos.

Não é só entregar o dinheiro — ele quer uma instituição que possa apoiá-lo junto aos outros empreendedores. Isso traz um ganho muito grande. Entendemos que se fizermos isso em cada comunidade, apoiando vários empreendedores de impacto, vamos, inclusive, poder conectá-los de outras formas. Isso porque formalmente, eles já estão conectados: quando estão em uma cooperativa, já são cooperados, são sócios, então, de maneira indireta, estão conectados pelo Sicoob.

Nós entendemos que articular uma conexão direta entre eles vai ser umas das formas de fazer com que o crédito tenha um impacto ainda maior do que já tem hoje.

HousingPact – A sustentabilidade ambiental, social e a governança propostas pelo ESG foram incorporadas pelas ações internas do Sicoob ou ainda estão nesse processo?

Douglas – Sim, o Sicoob tem incorporado as métricas de ESG a todas as diretrizes e práticas. A nossa longa trajetória, em uma gestão democrática, nos mostra que a dinâmica da economia exige novas práticas. O ESG com certeza vai contribuir bastante com isso. Nós publicamos recentemente um relatório de sustentabilidade em que abordamos o nosso primeiro grande trabalho mapeando e conectando nosso planejamento estratégico às ações e práticas do ESG.

Agora, estamos na segunda etapa, também muito importante, que é a construção dos planos de sustentabilidade. Envolvemos toda a organização para atuar no planejamento estratégico quando pensamos em desempenho de crescimento, aumento de operações e negócios e expansão para chegar a mais locais. Trabalhamos nossos planos atuando em várias frentes, como previsto no ESG, sendo a mudança climática uma delas.

Nós buscamos entender como podemos contribuir com essas ações e fortalecer o nosso modelo de negócios, que é o cooperativismo. Falo de fortalecer a conexão que já temos com as comunidades e, se por algum motivo essa conexão estiver enfraquecida, reconectar nossas ações às comunidades, seja apoiando na educação, nas ações ambientais ou em ações de financiamento de empreendedores, sempre entendendo como aquela economia local precisa de apoio para se desenvolver.